Variação linguística: exercícios com questões de Vestibular

Variação linguística: exercícios com questões de Vestibular

Nesta página, nós reunimos algumas questões sobre Variação Linguística, exercícios para você treinar seus conhecimentos e seu poder de interpretação à respeito da temática. Qualquer dúvida, basta comentar no artigo que a nossa equipe retorna à sua pergunta ou questionamento.

Variação Linguística: Exercícios

Questão FUVEST/1ª fase – 2018

Examine o cartum.

variação linguística exercícios

Frank e Ernst – Bob Thaves. O Estado de S. Paulo. 22.08.2017.

O efeito de humor presente no cartum decorre, principalmente, da

a) semelhança entre a língua de origem e a local.
b) falha de comunicação causada pelo uso do aparelho eletrônico.
c) falta de habilidade da personagem em operar o localizador geográfico.
d) discrepância entre situar-se geograficamente e dominar o idioma local.
e) incerteza sobre o nome do ponto turístico onde as personagens se encontram.

Comentários

Atenção, vestibulandos: essa também pode ser considerada uma questão de gênero textual não verbal: cartum.

Trata-se de uma questão de interpretação de texto, mais especificamente, interpretação de um cartum. Há também o elemento da Sociolinguística, isto é, dos dialetos falados diferentemente a depender da região. No caso, há dois personagens que sabemos ter viajado para a França, mais especificamente, para Paris.

Chegamos a essa conclusão por causa da Torre Eiffel. Aqui, parte-se do pressuposto de que isso faz parte do conhecimento de mundo do(a) candidato(a). Então, o personagem utiliza um aplicativo de localização geográfica.

GPS é a sigla para Global Positioning System, o que significa, em Língua Portuguesa, Sistema de Posicionamento Global. Consiste numa tecnologia de localização por satélite.

  • Alternativa “a”: incorreta. Há um choque de culturas e evidencia-se o uso de línguas diferentes a partir do momento que o personagem utiliza um GPS (instrumento de localização geográfica), como se este também rastreasse uma língua.

Já que a personagem usa um instrumento de busca, parte-se do pressuposto de que ele está perdido. Ele não procuraria em um aplicativo algo que ele já conhecesse.

Por isso, não há semelhança, mas sim diferença entre a língua de origem, nativa, a língua-mãe do personagem e a língua local (a francesa).

  • Alternativa “b”: incorreta. Não se trata de falha do aparelho eletrônico, uma vez que ele não foi desenvolvido para esse propósito. Como em qualquer programa que tentarmos usar com uma finalidade diferente daquela para a qual ele foi criado, ele simplesmente não irá funcionar, e isso não é resultado de uma falha, mas sim de inadequação.
  • Alternativa “c”: incorreta. Não se trata de falta de habilidade ou de sabedoria do personagem. Ele apenas tentar usar o aparelho com uma finalidade diferente daquela para a qual ele foi criado. Talvez, o melhor para o caso do personagem seria utilizar o Google Tradutor (aplicativo para traduzir termos de línguas diferentes), o que facilmente resolveria o problema dele.
  • Alternativa “d”: correta – gabarito. Eis um trocadilho entre a localidade regional, física, e a linguagem falada em lugares diferentes. O personagem fala português, mas ele está na França. Parte-se do pressuposto de que ele não fala francês. O personagem parte de um outro pressuposto – o de que o aplicativo resolveria o seu problema: a variação regional ou geográfica.
  • Alternativa “e”: incorreta. Novamente, não se trata de incerteza sobre o nome do ponto turístico – torre Eiffel. Não temos elementos o suficiente para inferir isso. Não sabemos qual termo da outra língua o personagem gostaria de falar. Apenas partimos do pressuposto de que ele não sabe francês; ele utilizou um aplicativo para tentar se comunicar, mas utilizou um aplicativo errado.

Gabarito: “d”.

Variação Linguística: exercícios

Questão ENEM 2014

A História, mais ou menos

Negócio seguinte. Três reis magrinhos ouviram um plá de que tinha nascido um Guri. Viram o cometa no Oriente e tal e se flagraram que o guri tinha pintado por lá. Os profetas, que não eram de dar cascata, já tinham dicado o troço: em Belém, da Judeia, vai nascer o Salvador, e tá falado. Os três magrinhos se mandaram. Mas deram o maior fora. Em vez de irem direto para Belém, como   mandava o catálogo, resolveram dar uma incerta no velho Herodes, em Jerusalém. Pra quê! Chegaram lá de boca aberta e entregaram toda a trama. Perguntaram: onde está o rei que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Quer dizer, pegou mal. Muito mal. O velho Herodes, que era oligão, ficou grilado. Que rei era aquele? Ele é que era o dono da praça. Mas comeu em boca e disse: joia. Onde é que esse guri vai se apresentar? Em que canal? Quem é o empresário? Tem baixo elétrico? Quero saber tudo. Os magrinhos disseram que iam flagrar o Guri e na volta dicavam tudo para o coroa.

VERISSIMO, L. F. O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1994.

Na crônica de Verissimo, a estratégia para gerar o efeito de humor decorre do(a):

a) linguagem rebuscada utilizada pelo narrador no tratamento do assunto.
b) inserção de perguntas diretas acerca do acontecimento narrado.
c) caracterização dos lugares onde se passa a história.
d) emprego de termos bíblicos de forma descontextualizada.
e) contraste entre o tema abordado e a linguagem utilizada.

Comentários

Essa é uma questão pura e simplesmente de registro da linguagem. A Bíblia foi escrita no registro formal da linguagem, ao passo que a crônica de Luis Fernando Verissimo (1936-até hoje) retrata a mesma história (o mesmo conteúdo), mas com uma forma diferente do da Bíblia: com o registro informal, coloquial da linguagem. Prova disso é a presença das gírias, por exemplo.

Segundo o dicionário Houaiss, gíria é toda aquela linguagem informal com vocabulário rico em expressões metafóricas, jocosas, elípticas e mais efêmeras que as da língua tradicional. Aqui se trata de uma paródia: obra literária, teatral, musical etc. que imita outra obra, ou os procedimentos de uma corrente artística, escola etc. com objetivo jocoso ou satírico; arremedo.

Eu tenho o prazer de trazer para vocês o registro original da Bíblia. Mateus, capítulo 2, versículos de 1 a 9: “Visita dos magos:1Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei de Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém. 2Perguntaram eles: ‘Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’. 3A essa notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele. 4Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo. 5Disseram-lhe: ‘Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta: 6E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo’ (Mq 5,1). 7Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido. 8E, enviando-os a Belém, disse: ‘Ide, e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunica-me, para que eu também vá adorá-lo.’ 9 Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram”.

  • Alternativa “a”: errada. “Rebuscada” quer dizer bastante aprimorado; esmerado, requintado. Esse seria o vocabulário da Bíblia, e não o da paródia. O registro da Bíblia é formal. Isso pode ser verificado por meio de expressões já no primeiro versículo desse trecho: a inversão da conjunção “pois” em “Tendo, pois, Jesus nascido (…)” e a expressão: “eis que”. Também é indicativo de registro formal da linguagem o uso da segunda pessoa do plural, “vós”, bem típico da Bíblia, e ainda o respeito a normas gramaticais, como a colocação pronominal, em “comunica-me” (versículo 8).
  • Alternativa “b”: errada. Notem que na alternativa está escrito “perguntas” no plural, mas isso só ocorre na paródia do Verissimo. Na Bíblia, como o registro é formal, uma de suas características é apresentar a linguagem concisa, o que quer dizer que só há uma pergunta nesse trecho da Bíblia, e não perguntas, no plural. O objetivo da paródia, quando o narrador coloca ali muitas perguntas, é enfatizar o caráter subjetivo da personagem: Herodes estava preocupado, ao passo que na Bíblia não fica claro todo esse psicologismo. Atenção: vocês não precisavam saber a Bíblia de cor para responder à questão. Basta saber o seguinte: geralmente, o registro formal evita perguntas, pois a pergunta por si só indica incerteza, é um efeito do texto mediante o qual o narrador quer provocar dúvida no leitor. Logo, perguntas são mais frequentes no registro informal que no formal.
  • Alternativa “c”: errada. O espaço é o lugar no qual se passa a história e se articula o enredo (a ação). Por si só, ele não é critério para delimitar se o registro é formal ou informal.
  • Alternativa “d”: correta – gabarito. Atenção: “descontextualizado” não quer dizer desprovido de lógica, desintegrado, desconectado. Quer dizer que o contexto foi deslocado, mudado de lugar, o que significa dizer que Verissimo transportou a linguagem da Bíblia do registro formal para o registro informal da coloquialidade.
  • Mais especificamente, provavelmente na faixa etária de jovens, uma vez que constatamos a presença de gírias, geralmente utilizadas por jovens. O objetivo ao utilizar esse efeito de texto foi chocar, impactar o leitor. E é isso o que produz o humor (efeito do texto, como estudaremos em aulas futuras).
  • Alternativa “e”: errada. Cuidado: a alternativa é verdadeira, pois há, sim, contraste entre o tema abordado (a escritura Sagrada, mais especificamente o episódio do nascimento de Jesus) e a linguagem utilizada (registro informal). Porém, o que é essencial para matar a questão é o termo “descontextualizada”, significando “deslocada”, que só aparece na alternativa “d”. Até pode haver contraste, mas não é o puro contraste que choca, impacta. Essa alternativa é capciosa, e a questão é menos simples do que parece. Afinal, até pode-se falar de uma mescla de registros, pois é utilizada a forma “oligão, por exemplo, da norma culta, uma variedade bem rara, e que significa “aquele que integra uma oligarquia”, “partidário da oligarquia”, mesmo na paródia informal. Lembrem-se: assim como um texto dificilmente apresenta apenas uma função de linguagem, é muito comum um texto apresentar simultaneamente dois registros: o formal e o informal.

Gabarito: “d”.

Espero que vocês tenham gostado deste artigo sobre Variação Linguística, exercícios que podem te ajudar a entender melhor o assunto.

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